Educação ambiental na periferia: quando o cuidado precisa ultrapassar o portão de casa

Educação ambiental na periferia: quando o cuidado precisa ultrapassar o portão de casa

Falar sobre educação ambiental no Brasil exige olhar para além dos centros urbanos valorizados e encarar uma realidade que historicamente foi empurrada para as margens. Nas periferias, o debate sobre meio ambiente quase sempre chega de forma superficial, quando chega. Sustentabilidade ainda é tratada como algo distante, elitizado ou desconectado do cotidiano de quem vive em regiões marcadas pela ausência de políticas públicas, infraestrutura precária e abandono social.

A forma como aprendemos a cuidar do espaço diz muito sobre como somos ensinados a nos relacionar com ele. Em muitas comunidades periféricas, o cuidado se restringe ao ambiente doméstico. A casa precisa estar limpa, organizada, protegida. Já a rua, o terreno baldio, o córrego ou a calçada raramente são vistos como espaços que merecem o mesmo zelo. Não porque as pessoas não se importam, mas porque esses lugares nunca foram tratados como dignos de cuidado.

Esse comportamento não nasce da falta de consciência ambiental. Ele nasce da falta de pertencimento. Quando o território em que se vive é constantemente negligenciado pelo poder público, a mensagem transmitida é clara: aquele espaço não importa. Com o tempo, essa lógica se naturaliza. Cuidar da rua passa a parecer inútil, já que o lixo volta, o mato cresce e os problemas estruturais permanecem.

Outro ponto essencial é a forma como a educação ambiental é trabalhada nas escolas. Em grande parte das instituições públicas, principalmente nas periferias, o tema aparece de forma pontual, teórica e distante da realidade local. Fala-se de reciclagem sem falar sobre coleta seletiva no bairro. Fala-se de meio ambiente sem abordar saneamento básico, enchentes, descarte irregular e saúde pública, problemas que fazem parte do dia a dia dessas comunidades.

Quando a educação ambiental ignora o território, ela perde força. Ensinar sustentabilidade sem contextualizar a vivência periférica reforça a ideia de que cuidar do meio ambiente é uma obrigação individual, e não uma responsabilidade coletiva que depende também de estrutura, políticas públicas e inclusão social.

Educar ambientalmente em comunidades marginalizadas exige uma mudança de abordagem. É preciso partir da escuta, do respeito e da realidade local. Mostrar que cuidar da rua é também cuidar da própria saúde, da segurança das crianças, da prevenção de doenças, enchentes e proliferação de vetores. O cuidado ambiental precisa ser apresentado como uma ferramenta de fortalecimento comunitário, e não como uma cobrança moral.

Nesse processo, também é fundamental reconhecer que a periferia carrega saberes importantes. A sustentabilidade não nasce apenas de conceitos modernos ou técnicos. Ela também está presente em práticas ancestrais, no reaproveitamento, no cuidado coletivo e na relação com a terra. Um exemplo disso é abordado no artigo “Vivendo a sustentabilidade através da sabedoria ancestral”, publicado no blog da Realixo, que mostra como práticas tradicionais podem ensinar muito sobre equilíbrio, respeito e convivência com o meio ambiente.
Leia o artigo completo aqui.

Quando falamos sobre resíduos nas grandes cidades, o cenário se torna ainda mais crítico. Segundo dados divulgados pelo Jornal da USP, a cidade de São Paulo produz cerca de 20 mil toneladas de resíduos urbaos por dia, enquanto os índices de reciclagem seguem extremamente baixos. Esse dado escancara um problema estrutural que não pode ser resolvido apenas com discursos individuais sobre responsabilidade ambiental.
Fonte.

A educação ambiental precisa caminhar junto com acesso à informação, infraestrutura e projetos que atuem diretamente nos territórios. Não basta ensinar a separar resíduos se não existe coleta adequada. Não basta falar de compostagem se não há orientação prática ou espaços acessíveis. É nesse ponto que iniciativas socioambientais se tornam essenciais para criar pontes entre conhecimento, prática e transformação real.

A Realixo atua exatamente nesse espaço de interseção entre educação ambiental, impacto social e economia circular. Ao trabalhar diretamente com comunidades, empresas e territórios diversos, a Realixo transforma a gestão de resíduos em um ato social, educativo e coletivo. Mais do que recolher resíduos, o objetivo é gerar consciência, pertencimento e mudança de comportamento a partir da realidade de cada lugar.

Quando a educação ambiental é feita de forma acessível, contínua e conectada com o território, ela deixa de ser um discurso distante e passa a ser uma ferramenta de transformação social. Valorizar a periferia também significa reconhecer seu potencial, seus saberes e sua capacidade de construir soluções quando existe apoio, escuta e inclusão.

Sustentabilidade não pode ser privilégio. Ela precisa ser direito. E isso só acontece quando a educação ambiental alcança todos os territórios, respeitando suas histórias, desafios e potências.

Quer entender como a Realixo transforma resíduos em impacto social e educação ambiental nos territórios? Conheça mais sobre nossa atuação e faça parte dessa transformação.