O plástico tornou-se uma parte inseparável do nosso cotidiano. Do amanhecer ao anoitecer, estamos constantemente em contato com ele em produtos domésticos, incluindo utensílios de cozinha, artigos de higiene pessoal, embalagens de alimentos e até brinquedos infantis. Sua presença é tão incorporada às nossas rotinas que muitas vezes ignoramos seu impacto. Contudo, por trás dessa conveniência, existe uma crescente crise ambiental. O lixo plástico polui a Terra e ameaça todos os seres vivos.
Reconhecendo a urgência desse problema, o Dia Mundial do Meio Ambiente de 2025 escolheu a poluição plástica como seu tema central. Essa celebração global nos convoca a refletir, assumir responsabilidade e agir. Sem mudanças significativas na forma como usamos, descartamos e gerimos o plástico, as consequências só se tornarão mais graves.
Invasão Plástica
O chamado global por maior conscientização sobre a poluição plástica serve como um alerta sério. O lixo plástico poluiu profundamente o meio ambiente, perturbou ecossistemas e representou uma ameaça crescente à saúde humana.
Imagine só: mais de 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas todos os anos, e dois terços disso são de uso único. De forma chocante, cerca de 1 milhão de garrafas plásticas são descartadas a cada minuto. Ainda mais alarmante é que aproximadamente 14 milhões de toneladas de resíduos plásticos entram nos oceanos do mundo anualmente. Até 2025, estima-se que entre 75 e 199 milhões de toneladas de plástico podem inundar o oceano. Se essa tendência continuar, ela contaminará gravemente o ambiente marinho, matando incontáveis criaturas do mar. E é possível que um dia haja mais plástico do que peixes no oceano.
De acordo com o World Population Review, países com alta densidade populacional tendem a gerar mais resíduos plásticos. Os maiores produtores incluem China, Estados Unidos, Índia, Brasil, México, Japão, Alemanha, Indonésia, Tailândia e Itália. Muitos desses países produzem muito mais plástico do que conseguem gerenciar, contribuindo para que um terço do lixo plástico global seja descartado de forma inadequada. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) estima que apenas 10% do lixo plástico mundial é reciclado com sucesso. O restante acaba em aterros, espalhado pelo ambiente ou incinerado.
A queima aberta de resíduos continua sendo uma prática amplamente difundida ao redor do mundo, especialmente em países que carecem de infraestrutura adequada de gestão de resíduos. Em Mumbai, na Índia, por exemplo, o Urban Ocean Waste Profile relata que a queima aberta de resíduos plásticos libera aproximadamente 22.000 toneladas de poluentes anualmente. Da mesma forma, na Guatemala, muitas famílias rurais frequentemente queimam lixo plástico como principal método de descarte devido à falta de serviços de coleta e instalações adequadas. Alarmantemente, o plástico também é comumente queimado para acender fogões de cozinha.
Um estudo publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health destaca que a poluição do ar, particularmente proveniente da queima de resíduos, contribui para problemas de saúde perigos, incluindo distúrbios respiratórios, doenças cardiovasculares e taxas de mortalidade elevadas, especialmente entre crianças e idosos.
De acordo com o Índice de Resíduos Mal Geridos de 2025, Nigéria, Paquistão, Bangladesh, Etiópia, Moçambique, Costa do Marfim e Maláui enfrentam problemas críticos na gestão de resíduos plásticos. Esses países lidam com infraestrutura precária e sistemas inadequados de coleta de resíduos. À medida que o consumo de plástico continua a crescer, seus esforços de gestão de resíduos ficaram defasados, levando ao descarte e à queima generalizada de lixo plástico.
Essa crescente crise foi destacada pela Earth Action for Impact, que alertou que os resíduos plásticos gerados em 2025 já superaram a capacidade mundial de manejá-los com segurança.
Plástico: Da Produção à Poluição
Os plásticos são produzidos principalmente a partir de compostos químicos derivados de combustíveis fósseis, como petróleo bruto, gás natural e carvão. Dados históricos mostram que a produção de plástico disparou na década de 1960, crescendo mais de 400%. Isso marcou o início de uma tendência crescente no uso de plástico, impulsionada pela demanda crescente dos consumidores e pela ampla adoção em diversos setores.
Para entender melhor o plástico, a indústria o categoriza em sete tipos principais, cada um com características distintas e usos específicos:
- Polietileno Tereftalato (PET): Comumente encontrado em garrafas de água, garrafas de refrigerante e recipientes de alimentos.
- Polietileno de Alta Densidade (HDPE): Usado em itens como brinquedos, galões de leite, frascos de shampoo e embalagens de detergente.
- Polietileno de Baixa Densidade (LDPE): Visto em sacolas plásticas, filmes plásticos e embalagens flexíveis.
- Policloreto de Vinila (PVC): Aplicado em materiais de construção, como tubos e esquadrias, além de cartões de crédito e algumas embalagens de alimentos.
- Poliestireno (PS), também conhecido como isopor: Frequentemente usado em recipientes descartáveis para alimentos e copos.
- Policarbonato (PC): Encontrado em produtos como lentes de óculos e componentes eletrônicos.
- Polipropileno (PP): Usado em recipientes de armazenamento de alimentos, peças automotivas e equipamentos médicos.
Cada tipo de plástico possui seu próprio nível de durabilidade e impacta o meio ambiente de maneira diferente. Por exemplo, PET e HDPE são relativamente mais fáceis de reciclar, enquanto PVC, PS e LDPE apresentam maiores desafios devido às suas estruturas químicas complexas e características físicas.
O PVC contém cloro e outros aditivos que tornam sua reciclagem difícil e podem liberar gases tóxicos quando aquecido. O PS, especialmente na forma de espuma, é leve e frágil, o que dificulta sua coleta e triagem, enquanto sua baixa densidade reduz seu valor de reciclagem. O LDPE é facilmente contaminado e difícil de limpar porque é fino e flexível. Embora existam métodos de reciclagem química para esses materiais, eles frequentemente exigem muita energia e são caros.
Plásticos não biodegradáveis são um grande contribuinte para a poluição do solo. À medida que se degradam, liberam substâncias químicas nocivas como o Bisfenol A (BPA). O BPA é um composto sintético comumente combinado com outros produtos químicos para produzir plásticos de policarbonato (PC) e resinas epóxi. O BPA é frequentemente chamado de “plástico pai” porque ajuda a fabricar muitos produtos de consumo resistentes. É comumente usado em itens resistentes ao calor, como embalagens de alimentos, recipientes para bebidas e produtos infantis. No entanto, o BPA pode migrar para alimentos e bebidas, especialmente quando exposto ao calor, acidez ou desgaste físico. Esse processo de lixiviação coloca a saúde em risco.
A poluição plástica prejudica a vida marinha. Um estudo global liderado por Carmen Morales-Caselles, da Universidade de Cádiz, revelou que os oceanos estão fortemente contaminados com resíduos plásticos, incluindo sacolas, garrafas, embalagens de alimentos, talheres descartáveis, invólucros, equipamentos de pesca e embalagens industriais.
Peixes, tartarugas, golfinhos e aves marinhas frequentemente confundem detritos plásticos com alimento. Quando ingeridos, podem causar ferimentos, infecções e até morte. Eles também frequentemente ficam enredados em redes de pesca descartadas e fitas plásticas de embalagens. Esses materiais podem feri-los ou levá-los a se afogar. A Convenção sobre Diversidade Biológica relatou que a poluição plástica afetou sete espécies de tartarugas marinhas, quase metade de todas as espécies de mamíferos marinhos e mais de um quinto das espécies de aves marinhas. Recifes de corais e outros ecossistemas marinhos vitais também estão se degradando em ritmo acelerado.
A poluição plástica não se limita aos oceanos. Em terra, animais de criação frequentemente ingerem plástico misturado à alimentação, levando a ferimentos internos ou até morte. Pesquisadores da University of Portsmouth descobriram que, em partes do Sul Global, animais domésticos procuram comida em lixões a céu aberto devido à incapacidade de seus tutores de fornecer ração adequada. No Quênia, uma vaca foi encontrada com 35 quilos de plástico em seu estômago. Outros animais, como burros, sofreram de forma semelhante.
O plástico contribui não apenas para a poluição do ar, mas também acelera as mudanças climáticas. Desde a produção e manufatura até o descarte e a decomposição no ambiente, cada etapa do ciclo de vida do plástico libera substâncias químicas tóxicas e gases de efeito estufa na atmosfera e intensifica o aquecimento global.
Microplástico: A Ameaça Silenciosa
Os microplásticos surgiram como um perigo oculto para o meio ambiente. Essas pequenas partículas, variando de 1 micrômetro a 5 milímetros, foram definidas como “microplásticos” pela primeira vez em 2004. Desde então, foram encontrados no solo, no ar, nos oceanos, em fontes de água doce e até nos alimentos que consumimos.
Os microplásticos variam amplamente em forma, cor, tamanho e densidade, dependendo de sua origem e composição química. Geralmente, são classificados em duas categorias: microplásticos primários, que são intencionalmente fabricados como partículas pequenas e comumente usados em cosméticos ou produtos biomédicos; e microplásticos secundários, que resultam da degradação de itens plásticos maiores, como embalagens de alimentos, sacolas plásticas, garrafas, pneus e tecidos sintéticos.
Com o tempo, pedaços maiores de resíduos plásticos se degradam em microplásticos e até fragmentos menores conhecidos como nanoplásticos — partículas com menos de 1 micrômetro de tamanho (1 μm ou 1.000 nanômetros). Esse processo é impulsionado pela exposição ao vento, ondas, luz solar e até pela atividade de animais digestão. Os nanoplásticos são tão pequenos que são invisíveis a olho nu. Imagine partículas milhares de vezes menores do que um grão de areia. Seria necessário um microscópio para vê-las.
Um fato alarmante é que microplásticos agora estão presentes em uma ampla variedade de itens do dia a dia, incluindo sal marinho, frutos do mar, frutas, vegetais, arroz, carne, leite e até saquinhos de chá. Numerosos estudos confirmaram que os microplásticos infiltraram o suprimento alimentar por meio de produtos marinhos, bem como de bens agrícolas e processados.
Um estudo publicado na Environmental Science & Technology analisou 39 marcas globais de sal, incluindo 28 sais marinhos de 16 países, e encontrou microplásticos em todos os tipos: sal marinho, sal-gema e sal de lago. O sal marinho apresentou a maior variação nos níveis de microplásticos, com amostras asiáticas contendo as maiores concentrações, provavelmente devido a fatores ambientais regionais.
Pesquisas lideradas por Margherita Ferrante, da Universidade de Catânia, descobriram que frutas tendem a conter mais microplásticos do que vegetais, provavelmente devido ao fato de árvores frutíferas acumularem poluentes ao longo de suas vidas mais longas. Outro estudo detectou microplásticos menores que 10 micrômetros em vegetais, variando de 52.000 a mais de 230.000 partículas por grama. Entre as amostras testadas, a alface apresentou os níveis mais altos, destacando a vulnerabilidade das folhas verdes à contaminação do ar e do solo.
De forma chocante, até o chá pode conter microplásticos. Pesquisas da Universidade McGill, no Canadá, descobriram que saquinhos de chá feitos de nylon ou plástico PET podem liberar até 11,6 bilhões de partículas de microplástico e 3,1 bilhões de nanoplásticos em uma única xícara de chá quando preparados com água quente.
Além de bebidas, alimentos ultraprocessados são propensos à contaminação por plástico devido ao contato prolongado com materiais de embalagem durante a fabricação. Um estudo publicado em Globalization and Health revelou que o risco aumenta quando as embalagens são aquecidas, reutilizadas ou expostas à luz solar.
Os mexilhões estão especialmente em risco quando colhidos em águas poluídas. De acordo com pesquisadores da Universidade de Ghent, na Bélgica, consumidores frequentes de mexilhões podem ingerir até 11.000 partículas de microplástico por ano. A EcoWatch também relatou contaminação por microplásticos em 386 espécies aquáticas, mais da metade das quais são comercializadas para consumo humano.
Um documento de trabalho da Scientists’ Coalition for an Effective Plastics Treaty demonstrou que têxteis sintéticos estão entre os maiores contribuintes de microplásticos no oceano. Cerca de 35% dessas partículas vêm de materiais como poliéster, nylon e acrílico, que são principalmente liberados durante a lavagem de roupas.
A abrasão de pneus agrava ainda mais o impacto. À medida que os pneus se desgastam, partículas microscópicas são liberadas no ar, nos rios e nos oceanos. Esse processo transporta compostos tóxicos, como a 6PPD-quinona, que foi diretamente ligada a mortes massivas de salmões no Noroeste do Pacífico.
A gravidade da poluição plástica nos oceanos também foi destacada por pesquisas da Universidade de Kyushu, no Japão, que estimam que a camada superior dos oceanos contém aproximadamente 24,4 trilhões de partículas de microplástico. Outro estudo revelou que microplásticos não só flutuam na superfície do oceano, mas também são encontrados no fundo do mar, mesmo nas zonas mais profundas.
Entre os mais afetados estão os plânctons, organismos microscópicos que desempenham um papel crucial na produção de oxigênio e na absorção de dióxido de carbono. Quando o plâncton ingere microplásticos, sua capacidade de crescer, se reproduzir e regular o ciclo de carbono dos oceanos é prejudicada. Esse desequilíbrio não apenas reduz os níveis de oxigênio, mas também enfraquece a função dos oceanos como estabilizadores do clima.
O Impacto dos Microplásticos na Saúde Humana
O estudo dos microplásticos está se expandindo rapidamente, mas continua complexo devido a vários fatores, como tamanho das partículas, forma, composição química e concentração. Diversos estudos destacaram os possíveis perigos e riscos à saúde associados à exposição a essas partículas.
Uma revisão abrangente do MD Anderson Cancer Center, da Universidade do Texas, identificou que nanoplásticos podem entrar nas células humanas e circular pelo corpo através do ar, dos alimentos e das bebidas.
Um estudo no African Journal of Reproductive Health estimou que os seres humanos ingerem aproximadamente 100.000 partículas finas de plástico por dia. As principais fontes de microplásticos presentes no ar incluem tecidos sintéticos, pneus desgastados e poeira urbana. A exposição a essas partículas pode levar a inflamação crônica, danos ao sistema respiratório e maior risco de asma e bronquite.
Pesquisadores detectaram microplásticos no cérebro, pulmões, sangue, fígado, órgãos reprodutivos, placenta, leite materno, urina e fezes. Uma exposição significativa vem de frutos do mar contaminados, o que pode causar disfunção celular, inflamação e até danos ao DNA. Uma vez dentro do corpo, aditivos tóxicos presentes nos plásticos podem atuar como transportadores de bactérias ou vírus nocivos, aumentando assim o risco de doenças infecciosas.
A exposição prolongada a substâncias químicas presentes nos plásticos tem sido associada a problemas de fertilidade. Tracey Woodruff, pesquisadora de microplásticos e professora da UC San Francisco, alerta que substâncias químicas comumente encontradas em plásticos — como BPA, ftalatos e PFAS (um grupo de compostos sintéticos) — podem imitar hormônios humanos. Esses hormônios regulam funções vitais, incluindo reprodução, crescimento e metabolismo. A exposição ao BPA tem sido associada a distúrbios reprodutivos e problemas de desenvolvimento, especialmente em bebês e crianças pequenas.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, San Francisco, identificaram uma correlação entre a exposição a microplásticos e um risco aumentado de câncer colorretal e de pulmão. Em um grande avanço científico, pesquisadores dos Países Baixos e do Reino Unido detectaram pequenas partículas de plástico incorporadas no tecido pulmonar de pacientes vivos submetidos a cirurgia.
Os microplásticos também têm sido associados a doenças cardíacas. Um estudo revelou que indivíduos com microplásticos nas artérias carótidas tinham o dobro de chance de sofrer um derrame, ataque cardíaco ou morrer dentro de três anos, em comparação com aqueles sem tal exposição.
Além disso, microplásticos foram encontrados até mesmo nos ossos humanos, incluindo a medula óssea. Pesquisas publicadas na Osteoporosis International indicam que essas partículas estimulam a formação de osteoclastos — células que degradam tecido ósseo — podendo prejudicar a função das células-tronco. Essa interrupção pode enfraquecer a estrutura óssea, acelerar o envelhecimento celular, desencadear inflamação e tornar os ossos mais propensos a deformações e fraturas.
Hábitos Diários para Minimizar a Exposição a Microplásticos
Embora seja quase impossível eliminar completamente os microplásticos da vida cotidiana, várias ações práticas podem reduzir significativamente a exposição:
- Evite aquecer alimentos em recipientes plásticos: Itens como embalagens de comida para viagem e refeições congeladas podem liberar microplásticos quando aquecidos no micro-ondas. Até mesmo mamadeiras representam um risco. Um estudo da Universidade de Nebraska–Lincoln descobriu que alguns recipientes de comida para bebês rotulados como “seguros para micro-ondas” podem liberar até 4 milhões de partículas de microplásticos por centímetro quadrado.
- Limite o consumo de frutos do mar de alto risco: Mariscos, peixes frescos, enlatados ou secos provenientes de águas poluídas podem conter microplásticos.
- Evite panelas antiaderentes e utensílios de cozinha à base de plástico. Substitua tábuas de corte de plástico por alternativas de madeira. Use papel-alumínio em vez de filme plástico.
- Escolha recipientes de vidro: Armazene temperos, óleo, arroz, manteiga de amendoim, mel, picles e bebidas em potes de vidro. O vidro é um material mais seguro e não libera substâncias tóxicas, ao contrário de certos tipos de plásticos.
- Use utensílios e louças pessoais no trabalho para substituir talheres e pratos plásticos descartáveis.
- Leve sua própria xícara para bebidas “para viagem”: Esse hábito simples reduz o consumo de itens plásticos descartáveis.
- Escolha garrafas de vidro ou aço inox para armazenar água. Use canudos ecológicos feitos de aço inox ou bambu como alternativas aos canudos plásticos.
- Escolha brinquedos de madeira para bebês e crianças pequenas, evitando materiais plásticos que podem conter aditivos químicos nocivos.
- Use sacolas reutilizáveis: Um hábito simples, porém impactante, para reduzir a poluição plástica.
Ao fazer pequenas mudanças para reduzir o uso de plástico, especialmente os descartáveis, as pessoas não apenas promovem um estilo de vida mais saudável e um ambiente mais limpo, mas também assumem uma responsabilidade pessoal com o planeta. Mesmo ajustes modestos representam um compromisso significativo com a proteção da natureza.
Sistema Circular do Plástico: Uma Solução Sustentável
A poluição plástica emergiu como uma crise global. Seu impacto massivo no planeta destaca a necessidade urgente de soluções inovadoras e sistemas mais eficazes de gestão de resíduos plásticos. Uma solução promissora é o sistema circular do plástico. Esse sistema busca estender o ciclo de vida dos plásticos por meio de design inteligente, reutilização, reciclagem e descarte eficiente.
A Chemical Market Analytics destaca que os plásticos circulares oferecem uma alternativa mais sustentável ao modelo linear tradicional de “produzir, usar, descartar.” Em um sistema circular, os plásticos usados são coletados, refinados e reutilizados. Isso ajuda a economizar matérias-primas, diminuir o consumo de combustíveis fósseis e evitar que resíduos plásticos acabem em aterros, rios e oceanos.
O sistema circular do plástico também traz benefícios econômicos. Ele utiliza recursos de forma mais eficiente e ajuda empresas a reduzir custos de produção ao usarem materiais reciclados. Ele cria novos empregos oportunidades na reciclagem, no redesenho de produtos e na inovação de materiais. Mais importante, esse sistema incentiva a responsabilidade de longo prazo entre todas as partes envolvidas, desde produtores até consumidores.
Desafios na Reforma do Plástico
Embora os sistemas circulares do plástico ofereçam inúmeros benefícios ambientais e econômicos, colocá-los em prática não é fácil. A implementação continua sendo um desafio complexo e exige forte comprometimento de governos, empresas e do público para funcionar.
A Waste4Change destaca vários obstáculos importantes que dificultam o avanço na implementação de sistemas circulares do plástico. Economicamente, o plástico virgem continua mais barato que alternativas recicladas, tornando-se a escolha preferida dos fabricantes e desestimulando investimentos em materiais sustentáveis. Tecnicamente, muitos produtos plásticos são projetados para uso único ou compostos por materiais mistos, o que complica os processos de reciclagem.
A infraestrutura permanece um grande desafio. Em muitos países, os sistemas de reciclagem carecem da tecnologia, capacidade e eficiência necessárias para gerenciar resíduos plásticos de forma eficaz. De acordo com o relatório Towards Circular Plastics, da Ocean Recovery Alliance, a infraestrutura inadequada — especialmente em nações em desenvolvimento — é uma das maiores barreiras para o avanço dos esforços de reciclagem.
Além das questões de infraestrutura, fatores comportamentais também desempenham um papel significativo. Muitas pessoas ainda não estão familiarizadas com a separação correta de resíduos ou com o valor do uso de produtos reutilizáveis. A falta de conscientização pública, somada à relutância em adotar hábitos sustentáveis, continua dificultando o progresso rumo a uma gestão de resíduos mais eficiente.
Enfrentar esses desafios exige regulamentações fortes, ajustes de políticas, avanços tecnológicos e mudanças de comportamento do consumidor para apoiar a sustentabilidade a longo prazo.
Vencer a Poluição Plástica por Meio da Inovação
Embora muitos países ainda não tenham implementado totalmente sistemas circulares do plástico, vários já fizeram progressos significativos na adoção deles. Uma série de inovações e políticas na gestão de resíduos plásticos também está sendo introduzida para reduzir a poluição plástica e seus efeitos nocivos ao meio ambiente e à saúde humana.
- Holanda: A Holanda é líder em esforços de economia circular, com a meta de se tornar totalmente circular até 2050 e reduzir o uso de matérias-primas em 50% até 2030. Projetos como o Circle City, em Amsterdã, apoiam a reutilização na construção civil e a redução do plástico, com regras que exigem que pelo menos metade dos materiais venha de fontes locais.
- Alemanha: A Alemanha é um dos maiores produtores de resíduos plásticos, mas também é reconhecida por seu sistema robusto de reciclagem. A taxa de reciclagem de embalagens plásticas chega a aproximadamente 68%, impulsionada pelo programa de depósito-retorno e pelo sistema de taxas de reciclagem. A Packaging Act (VerpackG) promove embalagens ecologicamente corretas e desempenha um papel fundamental na redução de resíduos.
- Suécia: A Suécia possui um sistema de gestão de resíduos altamente avançado, inclusive para resíduos plásticos. Regulamentações e políticas rígidas estão em vigor para reduzir plásticos de uso únicoe incentivam a reciclagem. Os cidadãos fazem a separação dos resíduos em casa, apoiados por instalações de reciclagem acessíveis. Como resultado, menos de 1% dos resíduos domésticos na Suécia acaba em aterros sanitários.
- Costa Rica: Desde 2019, o país proibiu sacolas plásticas e lançou um plano ambicioso para quase eliminar os resíduos plásticos até 2040. Uma iniciativa inovadora inclui o desenvolvimento de bioplásticos ecológicos à base de banana, que são até cinco vezes mais resistentes que o plástico convencional.
- Ruanda: Ruanda fez grandes esforços para combater a poluição plástica, proibindo embalagens plásticas descartáveis. Pessoas que não cumprem a regra enfrentam multas ou outras penalidades. Essa proibição levou a soluções criativas, como o desenvolvimento de embalagens biodegradáveis feitas com folhas de bananeira ou materiais à base de mandioca para embalar produtos. A conscientização pública aumentou, e muitos cidadãos participam de ações de limpeza e programas de reciclagem. Kigali, a capital de Ruanda, é conhecida como uma das cidades mais limpas da África e foi uma das primeiras a implementar iniciativas ambientais ousadas.
- Japão: O Japão utiliza muito plástico, especialmente em embalagens, devido a valores culturais que valorizam a limpeza e a apresentação cuidadosa. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, embalagens representam 68% dos resíduos plásticos do país. Apesar disso, o Japão possui um dos sistemas de gestão de resíduos mais eficientes do mundo. Mais de 85% dos resíduos plásticos são reciclados. Os cidadãos seguem regras rigorosas e separam o lixo doméstico em dez categorias para facilitar o descarte adequado.
O sucesso do Japão decorre de uma forte política conhecida como Estratégia de Circulação de Recursos Plásticos, que se baseia nos princípios dos 3Rs — reduzir, reutilizar e reciclar — além do uso de materiais renováveis. Essa abordagem promove o design de produtos ecologicamente corretos e apoia uma economia circular.
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A implementação de um sistema circular do plástico por meio de uma abordagem abrangente impulsionará uma grande transformação na redução da poluição plástica. Com um forte quadro regulatório, inovação contínua e compromisso coletivo de governos, indústrias e indivíduos como partes fundamentais, mudanças significativas e sustentáveis podem ser alcançadas. Esse progresso é essencial para criar um planeta mais habitável — agora e para as futuras gerações.
Escrito por Tina Agustari, Colaboradora Convidada | Especialista em Cultura, Comunidade, Natureza e Sustentabilidade.
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