Em 2025, Belém do Pará será palco da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30). Esse evento, de escala global, reunirá chefes de Estado, cientistas, ativistas, negociadores e representantes de organizações não governamentais para discutir estratégias de mitigação, adaptação e justiça climática. A mídia internacional dará ampla cobertura às negociações, e o mundo acompanhará com expectativa os compromissos assumidos. Mas surge uma pergunta simples e, ao mesmo tempo, poderosa: quem é você para a COP 30?
A maior parte da população mundial não estará presente fisicamente em Belém, outras muitas nem sabem do que se trata. A maioria esmagadora não discursará nas plenárias, tampouco aparecerá no noticiário. A maioria não será reconhecida como palestrante, mediador, autoridade política ou especialista em mudanças climáticas. Ainda assim, cada pessoa carrega um papel essencial neste processo. Afinal, somos cidadãos do mundo, participantes de um coletivo humano que depende de um equilíbrio delicado entre sociedade, economia e meio ambiente.
Esse texto busca refletir sobre a relevância indiscutível do “simples cidadão” diante da COP 30, destacando que a sustentabilidade não se constrói apenas nas mesas de negociação internacionais, mas, sobretudo, na vida cotidiana das pessoas. Para isso, serão apresentados argumentos que demonstram o poder da ação individual e coletiva, dialogando com perspectivas de autores renomados como Edgar Morin e Ailton Krenak, cujas visões ampliam a compreensão do papel humano na sustentabilidade planetária.
O que representa a COP 30?
As Conferências das Partes (COPs) são encontros anuais organizados pela ONU para avaliar os avanços na implementação da Convenção-Quadro sobre Mudanças Climáticas, criada em 1992 durante a Eco-92, no Rio de Janeiro. Desde então, os países signatários se reúnem para discutir e atualizar estratégias globais de enfrentamento à crise climática.
A COP 30, em Belém, tem um simbolismo ainda maior, pois esse encontro será realizado no encontro no coração da Amazônia, sendo uma decisão logística, política e cultural. A floresta amazônica, considerada o “pulmão do mundo”, é um dos ecossistemas mais importantes para a regulação climática global. Também é território de povos originários e comunidades tradicionais que, historicamente, têm preservado saberes fundamentais para a relação equilibrada com a natureza.
Portanto, a COP 30 não é apenas sobre negociações diplomáticas, mas sobre dar visibilidade àquilo que a Amazônia simboliza: a necessidade de reconectar humanidade e natureza.
O cidadão comum diante da COP 30
Embora a conferência seja um espaço de decisão internacional, o cidadão comum exerce um papel determinante no processo de transformação socioambiental. Isso porque as mudanças climáticas não são apenas um tema de cúpulas, mas de sobrevivência cotidiana.
Cada gesto diário, seja na forma de consumir, se locomover, descartar resíduos ou interagir com os espaços urbanos e naturais, contribui para moldar o futuro do planeta. Nesse sentido, mesmo que não participe da COP 30, cada cidadão é parte do que se negocia ali.
Segundo Edgar Morin (2000), um dos maiores pensadores contemporâneos, a crise ambiental é também uma crise de civilização. Em sua obra Os sete saberes necessários à educação do futuro, Morin afirma que é preciso desenvolver uma consciência planetária, pois “a humanidade é, ao mesmo tempo, uma e diversa, e deve assumir a sua comunidade de destino terrestre”. Assim, a sustentabilidade não depende apenas de governos ou instituições, mas de uma nova ética coletiva.
A responsabilidade compartilhada
A Agenda 2030 da ONU, com seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), reconhece que a mudança só será possível mediante a participação de múltiplos atores: governos, empresas, organizações civis e cidadãos. O cidadão comum é parte dessa engrenagem.
- No consumo: optar por produtos sustentáveis, apoiar pequenos produtores locais e reduzir o desperdício são formas concretas de influenciar cadeias produtivas globais.
- Na mobilidade: incentivar o uso de transportes coletivos, bicicletas ou caminhadas contribui para a diminuição da emissão de gases de efeito estufa.
- Na política: escolher representantes comprometidos com o meio ambiente fortalece as vozes que, nas conferências como a COP 30, podem lutar por acordos mais ambiciosos.
- Na comunidade: projetos locais de reciclagem, hortas urbanas e educação ambiental criam uma rede de transformação concreta, muitas vezes mais eficaz do que políticas macro, pois atuam diretamente na realidade das pessoas.
Assim, ser um “simples cidadão” não significa ser irrelevante. Ao contrário, é no cotidiano que a sustentabilidade ganha corpo e gera impacto real.
A perspectiva dos povos originários
Outro ponto essencial para pensar a COP 30 é a valorização dos povos originários. Ailton Krenak, escritor e líder indígena brasileiro, em sua obra Ideias para adiar o fim do mundo (2019), lembra que a relação da humanidade com a Terra foi distorcida pelo modelo de exploração predatória. Para ele, é necessário recuperar uma visão de pertencimento: “Nós não estamos fora da Terra, nós somos a própria Terra falando”.
Essa afirmação coloca o cidadão comum em outro patamar. Ser “simples” é, na verdade, ser parte da complexidade planetária. Krenak nos lembra que a vida não é um recurso a ser explorado, mas uma teia que conecta todos os seres.
A dimensão ética da participação
Ao se perguntar “quem é você para a COP 30?”, abre-se espaço para uma reflexão ética. A sustentabilidade é mais do que práticas ambientais; é uma postura de vida. É reconhecer que escolhas individuais têm repercussões globais e que há uma responsabilidade para além das fronteiras nacionais.
Essa ética, como destaca Morin, deve ser orientada por uma consciência planetária, capaz de enxergar o planeta como um “bem comum” da humanidade. A COP 30 pode ser um grande palco para governos negociarem metas, mas o real cumprimento dessas metas dependerá da adesão dos cidadãos em suas práticas diárias.
O cidadão como educador ambiental
Cada pessoa também é, de certa forma, educadora ambiental. Isso acontece quando ensina uma criança a economizar água, quando incentiva colegas de trabalho a separar resíduos, ou quando compartilha informações sobre os impactos do consumo.
A educação ambiental, segundo a Política Nacional de Educação Ambiental do Brasil (Lei 9.795/1999), deve ser permanente, crítica e participativa. Assim, a transformação depende do engajamento popular. O cidadão não apenas reproduz práticas, mas cria novas formas de viver em equilíbrio com o planeta.
Desafios para o cidadão comum
Apesar da relevância, há desafios significativos. Muitas vezes, o cidadão sente-se impotente diante de problemas globais, como o desmatamento da Amazônia ou a poluição dos oceanos. Há também barreiras estruturais, como a falta de acesso a serviços básicos de saneamento, transporte sustentável e produtos ecológicos acessíveis.
Esse sentimento de impotência, no entanto, pode ser revertido quando as ações individuais se somam a movimentos coletivos. Campanhas de mobilização, organizações comunitárias e redes sociais ampliam o impacto das pequenas ações. Assim, o cidadão deixa de ser “um só” e passa a ser parte de uma coletividade capaz de pressionar governos e empresas.
Conclusão
“Quem é você para a COP 30?” — a resposta, aparentemente simples, é profunda. Você é parte de um todo. É herdeiro de uma Terra que precisa urgentemente de cuidado de gente comum.
Não importa se não estará em Belém como palestrante, mediador ou autoridade. O que importa é compreender que a COP 30 não se limita às salas de conferência, mas reverbera na vida de cada pessoa. Cada escolha cotidiana é um voto silencioso pela sustentabilidade ou contra ela.
Ao lado de pensadores como Edgar Morin e Ailton Krenak, compreendemos que a crise climática é uma crise de humanidade, e a solução exige tanto uma consciência planetária quanto um reencontro espiritual com a Terra. Assim, ser cidadão é assumir responsabilidade e agir.
Você é, portanto, a COP 30 em movimento.
A Autora Shaiane de Souza é formada em Ciências Ambientais, apaixonada por soluções criativas na Educação Ambiental e Voluntária da Realixo.
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Referências
- KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
- MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000.
- BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Diário Oficial da União, Brasília, 28 abr. 1999.
- ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Nova York: ONU, 2015.
