Mulher carregando a cesta com alimentos na vila em Bali

Vivendo a Sustentabilidade Através da Sabedoria Ancestral

A Vila de Penglipuran, localizada no distrito de Bangli, em Bali, Indonésia, conquistou reconhecimento mundial como uma das vilas mais limpas do mundo. Livre de lixo plástico e poluição, e cercada por uma beleza serena, a vila se mantém como um testemunho vivo da sustentabilidade ambiental e da preservação cultural.

Desde o momento em que os visitantes chegam, são recebidos por calçadas impecáveis, jardins exuberantes e um ar refrescantemente puro. A comunidade tem enorme orgulho em preservar seu ambiente enquanto honra tradições centenárias.

Mas afinal, o que permite que a Vila de Penglipuran mantenha um equilíbrio tão notável entre herança cultural e meio ambiente?

Da Sabedoria Local às Práticas Verdes

A Vila de Penglipuran foi fundada no século XIV, durante o reinado do Reino de Bangli — um dos nove grandes reinos históricos de Bali. Segundo o portal Indonesia-Tourism, Bangli desempenhou um papel fundamental na governança de Bali entre o final do século X e início do XI, sob o rei Udayana, da dinastia Warmadewa. Esse rico pano de fundo histórico reforça a herança profundamente enraizada de Penglipuran e o legado cultural balinês.

O nome “Penglipuran” deriva de duas palavras balinesas: pengeling (lembrar) e pura (terra ancestral), simbolizando a profunda reverência da comunidade por suas origens. De acordo com narrativas locais, a vila foi um presente real do rei de Bangli para aldeões leais que ajudaram em batalhas contra o Reino de Gianyar. Transmitida por gerações, essa herança continua moldando a identidade da vila.

Um profundo respeito pela tradição orienta a vida cotidiana em Penglipuran, que abriga cerca de 1.200 moradores. A comunidade incorpora o espírito do hinduísmo por meio de costumes baseados na cooperação mútua, fortes laços familiares e sabedoria local. Suas atividades incluem agricultura, artesanato tradicional, serviço público, culinária, hospedagens familiares (homestays) e turismo — tudo conduzido com forte senso de tradição e harmonia comunitária.

Esse respeito cultural não se reflete apenas na vida social, mas também na estrutura física da vila. Seu traçado segue a filosofia sagrada balinesa de Tri Mandala. Segundo pesquisa da Universidade de Airlangga, Tri Mandala resulta de profunda reflexão filosófica e oferece orientação significativa às comunidades hindus. Etimologicamente, Tri significa “três” e Mandala refere-se a lugar ou região.

A vila é dividida em três zonas: Utama Mandala para templos e atividades espirituais, Madya Mandala para residências e Nista Mandala para cemitérios. Essa organização promove equilíbrio físico, espiritual e social. As delimitações espaciais seguem duas orientações sagradas: o eixo montanha-mar (kaja – norte até kelod – sul) e o caminho do sol (kangin – leste até kauh – oeste). Essas direções possuem significado tanto simbólico quanto prático para quem habita e interage no espaço.

A mesma filosofia de equilíbrio guia o uso da terra e dos recursos naturais. Dos 112 hectares da vila, a distribuição é feita da seguinte forma: 50 hectares para agricultura, 45 para floresta de bambu, 4 para floresta de madeira nobre, 9 para área residencial e 4 para instalações públicas e sagradas. Essa divisão reflete o compromisso com os espaços verdes e o equilíbrio ecológico.

Bambu: Tradição, Economia e Ecologia

O bambu é uma fonte vital de sustento para os moradores de Penglipuran e do distrito de Bangli. Colhido das florestas próximas sob rígidas regras comunitárias, é utilizado em cerimônias religiosas, móveis, criação de animais e, sobretudo, como telhado das casas tradicionais. Com o tempo, a habilidade artesanal transformou o processamento do bambu em uma indústria local próspera, tornando-o um recurso econômico valioso.

Reconhecendo sua importância cultural e ecológica, a comunidade adotou práticas de conservação para garantir a sustentabilidade da floresta de bambu, considerada sagrada pelos moradores e símbolo da identidade cultural local. Segundo o portal BudayaBali, a floresta é vista como guardiã das raízes históricas da comunidade. Além do significado espiritual, o bambu desempenha papel ecológico essencial: enriquece o solo, preserva reservas de água e absorve carbono.

Para apoiar a conservação, a vila emprega funcionários que recolhem folhas secas de bambu para transformá-las em adubo orgânico. Os moradores também respeitam os ciclos naturais: evitam cortar bambu na estação chuvosa, quando os brotos são mais abundantes, e selecionam cuidadosamente quais partes da touceira colher. Essas práticas seguem a filosofia hindu-balinesa Tri Hita Karana, que promove harmonia entre os humanos (Pawongan), o divino (Parhyangan) e a natureza (Palemahan).

Sustentabilidade é Herança, Não Invenção

O compromisso da comunidade de Penglipuran com a conservação da floresta de bambu está profundamente ancorado no direito consuetudinário, especialmente no awig-awig e no perarem. Segundo o Journal of Legal and Cultural Analytics (2023), awig-awig refere-se a um conjunto de regras tradicionais criadas pelos membros da aldeia, servindo como estrutura para aplicar os princípios do Tri Hita Karana. Já o perarem atua como instrumento complementar, regulando aspectos específicos da vida tradicional, incluindo o cuidado ambiental.

Juntos, awig-awig e perarem formam a base legal e cultural que orienta a comunidade na preservação ecológica e na honra aos valores ancestrais. O awig-awig proíbe rigorosamente atividades que prejudiquem o equilíbrio ambiental, como o corte indiscriminado de árvores, a poluição dos rios e a caça de animais silvestres. Infratores podem sofrer desde sanções sociais e espirituais até punições legais.

Guiados por forte consciência ecológica, os moradores também praticam princípios de economia circular: separam os resíduos em orgânicos, não orgânicos e recicláveis, enviando plásticos reaproveitáveis ao banco de resíduos local. A compostagem é amplamente utilizada para reduzir o lixo doméstico, e todo o sistema é administrado por um centro comunitário de gestão de resíduos.

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De acordo com I Wayan Budiarsa, chefe da vila, em entrevista ao Bali Tribune, essas práticas de gestão de resíduos e conservação do bambu estão sendo transformadas em um laboratório vivo de educação ambiental. Além de mostrar governança ecológica eficiente, elas reforçam valores culturais mantidos pelo senso de responsabilidade coletiva.

Ecoturismo Sustentado pela Responsabilidade Coletiva

O povo de Penglipuran mantém suas tradições com disciplina e integridade, refletindo uma compreensão profunda de como equilibrar humanidade e natureza. Essa dedicação rendeu à vila inúmeros reconhecimentos ao longo dos anos.

Em 1995, Penglipuran recebeu o prestigiado Prêmio Kalpataru, na categoria Guardiã do Meio Ambiente. Três décadas depois, em 2025, recebeu novamente a honraria do Ministério do Meio Ambiente e Florestas. Além disso, foi premiada com o Prêmio de Turismo Sustentável da Indonésia (ISTA) e listada entre os 100 Destinos Sustentáveis do Mundo, pela Green Destinations Foundation.

A governança da vila, baseada em valores culturais, sustentabilidade ambiental e fortes princípios comunitários, demonstra que o turismo pode prosperar sem degradar a natureza. Essa conquista consolidou seu reconhecimento nacional e internacional, transformando Penglipuran em referência de turismo sustentável e em modelo estratégico para outras regiões turísticas da Indonésia.

Muito além de seu charme pitoresco, a Vila de Penglipuran se ergue como um poderoso exemplo de sustentabilidade enraizada no patrimônio cultural. No coração de sua identidade está o compromisso profundo com as tradições ancestrais, o cuidado ambiental e a responsabilidade coletiva.

Em Penglipuran, a sustentabilidade não é uma moda — é um legado.

Escrito por: Tina Agustari
Escritora Convidada | Explorando Cultura, Comunidade, Natureza e Sustentabilidade

Tradução por: Milena Barbalho

REFERÊNCIAS

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