Sustentabilidade que começa no design.
E se o futuro que queremos já começasse no primeiro risco de um lápis sobre o papel?
Imagine se tudo que você toca, veste, usa ou joga fora tivesse sido pensado para continuar existindo, sem virar lixo, sem virar problema no meio ambiente. Imagine um mundo onde a criatividade não termina na prateleira de uma loja, mas continua no tempo, no reuso, no renascimento das coisas.
É disso que estamos falando quando falamos em design circular: uma forma de criar que respeita o planeta e valoriza cada recurso como se fosse único.
E se o design fosse circular com uma pitada de criatividade e sustentabilidade?
Produtos criados para serem úteis e duráveis, que podem ser transformados, ressignificados e se forem descartados não contaminam o meio ambiente, pois foram produzidos com materiais sustentáveis, pensando também no descarte.
Um ciclo que começa antes de nascer
Na natureza, nada se perde: a folha que cai vira adubo, o rio que corre volta como chuva, e a vida se recicla em silêncio. A natureza é mais que um ciclo. Ela é circular! Por que, então, os objetos criados por nós não seguem essa mesma dança?
As perguntas mais necessárias de um design circular:
E depois, o que acontece? Para onde vai? Como continua? Se for descartado, o que contamina?
Essa mentalidade propõe que os produtos nascem envoltos no pensamento circular.
Costurando um mundo com menos sobras
Grande parte da poluição vem da “rebarba” de produções sem um design circular.
Quando falamos de sustentabilidade, muitas vezes pensamos em reciclagem, em separar o lixo, em usar menos plástico. Mas, antes disso tudo, existe uma decisão invisível e poderosa: o momento do projeto, o momento da criação.
É ali, na prancheta, no corte do tecido, na modelagem e nos materiais a serem utilizados, que nascem as escolhas que definem o impacto ambiental de um produto.
Segundo a Fundação Ellen MacArthur, 80% dos impactos ambientais são definidos ainda na fase de design. Essa afirmação também é reforçada por McDonough e Braungart (2002), autores do livro Cradle to Cradle, que defendem que o design pode e deve ser pensado para prevenir resíduos desde a origem, criando produtos que possam ser reutilizados ou reciclados de forma infinita.
Isso significa que, se criarmos com consciência, podemos evitar problemas antes que eles sequer existam.Como destaca Salcedo (2014), em Moda Ética para um Futuro Sustentável, o design consciente pode transformar a moda em uma ferramenta de regeneração, e não de esgotamento de recursos.
Quando o design vira transformação
Roupa que vira história
Já existem marcas que criam roupas com tecidos de reuso, peças moduláveis ou mesmo roupas alugáveis. O look de ontem pode vestir outra pessoa amanhã, e tudo bem. A moda pode ser movimento, e não acúmulo.
Móveis com mais de uma vida
Sabe aquele berço que vira escrivaninha? Ou aquela estante que se desmonta e vira banco? Isso é design circular em ação: versatilidade com propósito.
Embalagens que somem sem culpas
Já pensou em uma embalagem que se dissolve na água ou vira adubo? É a ciência alinhada com criatividade. É responsabilidade criativa e suave.
No mercado já existem embalagens de potes de vidro que usam atrás do rótulo de descrição dos produtos, uma lousa para que, após usar o conteúdo do produto, o cliente retire facilmente o rótulo e possa usar a embalagem para outras funções e a lousa para escrever nome dos temperos, por exemplo.
E o pequeno produtor, as pequenas empresas, também podem ter práticas circulares em seus processos produtivos?
A resposta é sim!
Não é preciso ser uma grande marca para aplicar o design circular. Quem costura, modela, borda, pinta, inventa, pode (e deveria) pensar.
Mesmo que o produtor seja de pequeno porte, ele precisa estar atento ao resíduo que produz.
Um pequeno resíduo pode causar um grande impacto.
Algumas ideias simples:
• Guardar sobras de tecido e transformá-las em acessórios ou brinquedos sensoriais.
• Planejar o corte para evitar perdas.
• Criar produtos que possam ser desmontados e montados de novo.
• Usar materiais de origem consciente ou reciclada.
• Estimular a troca, o reparo, o recomeço.
Sabia que comprar em brechós é uma atitude circular? Ou que consertar uma peça de roupa é uma atitude sustentável, uma vez que, ao receber o reparo, a roupa também recebe prolongamento de vida útil?
É nesse detalhe que mora a potência da economia criativa: transformar o que sobra em obra.
Design circular é economia criativa com raízes
Há quem pense que criar com restrição limita. Mas a verdade é que o design circular abre portas. Ele nos convida a sermos mais inventivos, mais atentos, mais poetas do que produtores.
É a chance de criar com propósito. De olhar para os resíduos como matéria-prima e não como fim.
De transformar lixo em lucro, em criatividade, afeto, memória, identidade.
Quando olhamos para a crise climática, para os oceanos cobertos de plástico e para os aterros transbordando, parece que já é tarde. Mas o design circular nos mostra que não: tudo pode começar de novo.
Não é sobre impor regras, mas sobre propor caminhos.
E se, ao invés de projetar para vender mais, a gente projetasse para durar mais?
E se o design deixasse de ser apenas forma e função… e virasse também futuro?
Criar com intenção é um ato de esperança
O design circular é, antes de tudo, um jeito de cuidar. De olhar para o mundo com mais calma e perguntar: “Isso que estou criando está aqui para quê, e como será o seu fim?”
Seja na costura, na sala de aula, na arquitetura ou na embalagem de um chá, existe sempre uma chance de fazer diferente. De deixar um rastro leve no planeta. De criar não para descartar, mas para inspirar.
A Autora Shaiane de Souza é formada em Ciências Ambientais, apaixonada por soluções criativas na Educação Ambiental e Voluntária da Realixo.
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Referências:
LLEN MACARTHUR FOUNDATION. A new textiles economy: redesigning fashion’s future. Cowes: Ellen MacArthur Foundation, 2017. Disponível em: https://ellenmacarthurfoundation.org. Acesso em: 08 ago. 2025.
MCDONOUGH, William; BRAUNGART, Michael. Cradle to cradle: criar e reciclar ilimitadamente. 1. ed. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.