Uma casca de banana no lixo não é só uma casca de banana… até porque não é uma só.
Ela pode ser adubo rico para uma horta ou um gás poluente que acelera o aquecimento global. A escolha do destino dessa casca parece pequena, mas tem um impacto gigante no planeta, principalmente quando mensuramos quantas cascas e restos de alimentos são descartados diariamente no planeta.
Vamos começar com inspiração?
Um único projeto brasileiro municipal de compostagem, nos primeiros 3 meses desse ano, foi capaz de transformar 1.800 toneladas de resíduos orgânicos, com resultados notáveis como a redução de 1.260 toneladas de CO₂e e a produção de 900 toneladas de composto orgânico que é usado como adubo em jardins, hortas e parques da cidade.
Isso é coisa de brasileiro apenas? Não! Em abril desse ano, Nova York implementou um programa de compostagem obrigatória para todos os moradores da cidade. A medida visa reduzir o volume de resíduos enviados para aterros sanitários e diminuir as emissões de gases de efeito estufa. O programa, gerenciado pelo Departamento de Saneamento de Nova York (DSNY), exige que os moradores separem restos de alimentos, papel sujo e resíduos de jardim para a coleta separada.
Você já parou para pensar para onde vai cada simples casca de alimento que você descarta?
Todos os dias, toneladas de resíduos orgânicos seguem para aterros e lixões, mesmo sendo um recurso valioso que poderia regenerar nossos solos e reduzir emissões.
Quando o lixo orgânico não vira composto, ele gera impactos silenciosos no clima, na saúde do solo e até na economia das cidades.
Será que não está na hora de mudarmos essa história?
Para onde vai o lixo orgânico no Brasil?
No Brasil, a maior parte dos resíduos orgânicos termina em aterros sanitários ou lixões, misturada a plásticos, papéis, madeira e outros materiais. Quando isso acontece, desperdiçamos a chance de transformar essas cascas, folhas e restos de alimentos em adubo rico que poderia regenerar solos e nutrir hortas urbanas.
Em ambientes sem oxigênio, como os aterros, os resíduos orgânicos entram em decomposição e geram metano, um gás de efeito estufa até 28 vezes mais potente que o CO₂, acelerando o aquecimento global de forma silenciosa. Para ter uma ideia, o IPCC¹ aponta que o setor de resíduos é responsável por cerca de 18% das emissões globais de metano, muito disso vindo do nosso lixo orgânico que não compostamos.
Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil (ABRELPE²), cerca de 50% de todo o lixo que geramos é orgânico, mas apenas uma fração mínima recebe a destinação correta por meio da compostagem. Isso significa que metade de tudo que descartamos poderia voltar ao solo como vida, mas acaba soterrada, gerando impactos que poderiam ser evitados.
Mais que o destino, é preciso entender o impacto!
Os impactos do descarte inadequado vão além do que os olhos conseguem ver. O metano gerado em aterros contribui para as mudanças climáticas e o superaquecimento do planeta, enquanto o chorume, aquele líquido escuro e malcheiroso que se forma nos aterros, infiltra-se no solo e pode alcançar lençóis freáticos, contaminando a água que abastece comunidades inteiras. Segundo a ABRELPE², cerca de 40% dos lixões e aterros no Brasil operam sem impermeabilização adequada, aumentando o risco de contaminação.
E tem mais: transportar toneladas de resíduos diariamente e manter áreas para sua disposição gera mais emissões de GEE³ e custos elevados para os municípios, recursos que poderiam ser aplicados em saúde, educação ou segurança pública, trazendo benefícios diretos para a sociedade.
No fundo, quando enterramos o lixo orgânico, estamos enterrando mais do que cascas e restos: estamos enterrando a oportunidade de regenerar o planeta, de nutrir o solo, de reduzir emissões e de fechar ciclos que a natureza já nos ensinou a respeitar.
O que aconteceria se compostássemos?
A história seria diferente!
Compostar é transformar o que chamamos de lixo em vida nova, fechando os ciclos que a natureza sempre soube conduzir. Restos de frutas, cascas de legumes e folhas podem se tornar um composto rico, capaz de nutrir hortas urbanas, jardins comunitários e até praças públicas, reduzindo a dependência de fertilizantes químicos e contribuindo para solos mais saudáveis.
Ao evitar que os resíduos orgânicos cheguem aos aterros, a compostagem reduz significativamente a emissão de gases de efeito estufa, ajudando no enfrentamento das mudanças climáticas de forma prática e ao alcance das mãos.
Mais do que isso, compostar nos conecta de volta ao processo natural de regeneração. É uma forma de praticar cuidado coletivo, criar vínculos com o solo e despertar a consciência de que cada casca tem valor. Projetos comunitários de compostagem se transformam em espaços de aprendizado, fortalecem laços de pertencimento e mostram que pequenas ações podem gerar impactos positivos reais, para as pessoas, para as comunidades e para o planeta.
Conclusão
O lixo orgânico sempre terá um destino, a diferença está em quem escolhe qual será esse destino: um problema ou uma solução.
Quando não compostamos, o lixo orgânico se transforma em um fardo para o planeta, lotando aterros e mais aterros, liberando gases de efeito estufa e desperdiçando nutrientes preciosos. Mas, quando damos a ele a chance de se transformar em composto, o lixo orgânico se torna vida: nutre o solo, alimenta hortas, fortalece comunidades e ajuda a regenerar o clima.
Talvez seja hora de olharmos para cascas, folhas e restos de alimentos não como lixo, mas como sementes de um futuro regenerativo, onde cada pequena ação, como compostar, se torna um ato de cuidado com a terra e com todos nós.
Se cada casca conta, vamos juntos compostar?
Você já compostou ou tem vontade de começar? Compartilhe suas experiências e inspire outras pessoas a darem o primeiro passo.
Acesse realixo.com.br e descubra como a compostagem pode fazer parte do seu dia a dia de forma prática, acessível e com impacto real no planeta.
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Alexandra Diniz de Assis é Apaixonada pela natureza, atua como consultora em ESG e gestão comercial. É associada ao GBC Brasil e à UGreen, contribuindo com certificações verdes para edificações, produtos e empresas. Coautora do livro A Voz Feminina da Sustentabilidade (volume 2), também dedica-se ao voluntariado como diretora de uma ONG de ensino de idiomas e articulista da Realixo. Participa ativamente de Grupos de Trabalho voltados às práticas ESG, incluindo o GT Luso-Brasileiro e o CBPS-CBARI, com foco em soluções para pequenas e médias empresas.
SIGLAS:
¹IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas)
²ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais
³GEE – Gases de Efeito Estufa
REFERÊNCIAS:
IPCC: IPCC AR6 (2021), Climate Change 2021: The Physical Science Basis, Chapter 5 (Global Carbon and Other Biogeochemical Cycles and Feedbacks)
Prefeitura de Curitiba: https://www.curitiba.pr.gov.br/noticiasespeciais/programa-municipal-de-compostagem-compostagem-domestica/39#:~:text=O%20que%20%C3%A9%20o%20programa,org%C3%A2nicos%20encaminhados%20a%20aterros%20sanit%C3%A1rios
Brasil Amazonia Agora: https://brasilamazoniaagora.com.br/nova-york-adota-compostagem-obrigatoria/#:~:text=O%20programa%20em%20Nova%20York%20ainda%20est%C3%A1,sobre%20o%20destino%20final%20dos%20res%C3%ADduos%20org%C3%A2nicos